terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sombras e piruetas

Ouvi dizer a um inteligente publicista, meu amigo, que um revolucionário se define a si mesmo como aquele homem do provérbio alemão que podia saltar sobre a sua própria sombra. O revolucionário é o homem que pode saltar sobre a sua própria sombra. Isto explica aos olhos, se não ao entendimento, e menos ainda ao coração, as estranhas e ridículas piruetas que vemos realizar, puerilmente, a tantos jovens e velhos revolucionários simuladores, que, ao terem de saltar uma sombra tão subtil de si mesmos, a buscam em redor de si, sem encontrá-la, pois não conseguiram sequer vê-la projectar-se no solo. A estes havia que aconselhar, amistosamente, que se querem saltar sobre a sua sombra, comecem por ver se realmente a têm; se essa sombra os segue, arrastando-se a serpentear pelo solo. Porque, na melhor das hipóteses, a perderam, como acontece ao herói do conto de Chamisso.

José Bergamín, em «Las nubes y las sombras», Las ideas liebres, Ediciones Destino, Barcelona, 1998.