domingo, 23 de setembro de 2012

E se por acaso há quem duvide, já é tarde

São raros os que nas letras buscam a ciência; o que buscam é utlidade, e aplauso; (...) Narcisos das suas acções, e sobretudo das suas letras, eles são os primeiros que se admiram, e se aplaudem; e tudo com tal arte, que aquela admiração sem fé, por ter neles mesmos um princípio errado, e suspeitoso, eles de tal sorte a espalham, que depois de introduzida, vem a servir-lhes de título legítimo; e se há por acaso quem duvide, já é tarde, porque na fama também cabe prescrição; é como uma posse, que fica sendo prova do domínio.

Matias Aires, Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens, fixação do texto e notas de Violeta Crespo Figueiredo e Jacinto do Prado Coelho, colecção Pensamento Português, IN-CM, 2.ª edição, Lisboa, 2005.