sexta-feira, 28 de setembro de 2012

À espera dos bárbaros

Porque esperamos, reunidos na praça?

xxxHoje devem chegar os bárbaros.

Porque reina a indolência no Senado?
Que fazem os senadores, sentados sem legislar?

xxxÉ porque hoje vão chegar os bárbaros.
xxxQue hão-de fazer os senadores?
xxxQuando chegarem, os bárbaros farão as leis.

Porque se levantou o Imperador tão de madrugada
e que faz sentado à porta da cidade,
no seu trono, solene, levando a coroa?

xxxÉ porque hoje vão chegar os bárbaros.
xxxE o imperador prepara-se para receber o chefe.
xxxPreparou até um pergaminho para lhe oferecer, onde pôs
xxxmuitos títulos e nomes honoríficos.

Porque saem hoje os nossos cônsules, e também os pretores,
com togas vermelhas bordadas?
Porquê essas pulseiras com tantos ametistas
e esses anéis com esmeraldas resplandecentes?
Porque empunham hoje bastões tão preciosos,
tão a prata e ouro lavrados?

xxxHoje vão chegar os bárbaros,
xxxe estas coisas deslumbram os bárbaros.

Porque não vêm, como sempre, os ilustres oradores
fazer-nos os seus discursos, dizendo o que têm para nos dizer?

xxxHoje vão chegar os bárbaros;
xxxe, a eles, aborrece-os os discursos e a retórica.

E que vem a ser esta repentina inquietação,
esta desordem? (Como ficaram sérios os rostos!)
Porque vão ficando vazias as ruas e as praças
e todos regressam, tão pensativos, a suas casas?

xxxÉ porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.
xxxE da fronteira chegou gente
xxxdizendo que os bárbaros já não vêm.

E agora que será de nós sem bárbaros?
De certo modo, essa gente era uma solução.


Constatino Cavafisxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

traduções consultadas: de Pedro Bádenas de la Peña (Poesía Completa, Alianza Editorial, 1985), de Edmund Keeley e Pihilp Sherrard (Collected Poems, The Hogarth Press, 1984) e Juan Ferraté (Revista Litoral, Unesco, número dedicado a Cavafis, 1999).