À espera dos bárbaros
Porque esperamos, reunidos na praça?
xxxHoje devem chegar os
bárbaros.
Porque reina a indolência no Senado?
Que fazem os senadores,
sentados sem legislar?
xxxÉ porque hoje vão chegar os bárbaros.
xxxQue
hão-de fazer os senadores?
xxxQuando chegarem, os bárbaros farão as
leis.
Porque se levantou o Imperador tão de madrugada
e que faz
sentado à porta da cidade,
no seu trono, solene, levando a coroa?
xxxÉ
porque hoje vão chegar os bárbaros.
xxxE o imperador prepara-se para receber o
chefe.
xxxPreparou até um pergaminho para lhe oferecer, onde pôs
xxxmuitos
títulos e nomes honoríficos.
Porque saem hoje os nossos cônsules, e também os
pretores,
com togas vermelhas bordadas?
Porquê essas pulseiras
com tantos ametistas
e esses anéis com esmeraldas resplandecentes?
Porque
empunham hoje bastões tão preciosos,
tão a prata e
ouro lavrados?
xxxHoje vão chegar os bárbaros,
xxxe estas coisas deslumbram os
bárbaros.
Porque não vêm, como sempre, os ilustres oradores
fazer-nos os seus discursos, dizendo o que têm para nos dizer?
xxxHoje vão chegar os
bárbaros;
xxxe, a eles, aborrece-os os discursos e a retórica.
E que vem
a ser esta repentina inquietação,
esta desordem? (Como ficaram sérios os rostos!)
Porque vão ficando vazias as ruas e as praças
e
todos regressam, tão pensativos, a suas casas?
xxxÉ porque anoiteceu e os
bárbaros não vieram.
xxxE da fronteira chegou gente
xxxdizendo que os bárbaros
já não vêm.
E agora que será de nós sem bárbaros?
De certo modo, essa
gente era uma solução.
traduções consultadas: de Pedro Bádenas de la Peña (Poesía Completa, Alianza Editorial, 1985), de Edmund Keeley e Pihilp Sherrard (Collected Poems, The Hogarth Press, 1984) e Juan Ferraté (Revista Litoral, Unesco, número dedicado a Cavafis, 1999).