segunda-feira, 4 de julho de 2011

Memórias Intactas (7 de 7)

Naquela janela de angélica luz o Tempo parece anular-se. Quando por fim consigo partir, chega a notícia de que o museu vai fechar. Já não tenho tempo senão para um breve relance sobre a Descida da Cruz — outro tema constante, de incessante variação —, de Rogier Van der Weyden, um monumento de composição cenográfica. Mas tenho de sair. Estive no Museu, não as três horas de don Eugenio, mas pouco mais de uma. Foi melhor assim. Chega-se a uma idade em que percebemos que se deveria ir aos museus ver apenas um quadro de cada vez.

Chega-se a uma idade em que aprendemos até nos livros que se não leram*.



*Alguns dias depois de escrever este texto, a pessoa a quem ele foi dedicado pôs-me nas mãos o livro que eu não soubera encontrar. Da sua leitura posterior retenho aqui esta passagem: «El amigo se contentará, pues, con una estación ante la tabla de La Anunciación, del Beato Angélico. Prolónguela, la estación, tanto como pueda.»