Uma poesia irredutível
Uma poesia irredutível, uma poesia que se alimenta da sua própria vertigem cósmica nunca se entregando por completo aos mecanismos da inteligibilidade. O caudal das imagens e das metáforas, a cada passo retomadas e renovadas, parece arrastar consigo o poema, mas é o poeta quem conduz esse canto inebriado e obscuro, liberto de constrangimentos e nexos lógicos exteriores, mas fiel a uma energia que, brotando de dentro do próprio poema, é submetida a um rigoroso labor. Dessa oficina nascem relações surpreendentes e belas na sua estranheza, de algum modo devedoras de uma estética surreal ou fantástica, mas em que, paradoxalmente, o real toma o lugar do onírico. Carregado de múltiplas e límpidas cintilações, o texto adensa-se até à opacidade. Mas continua a brilhar. [excerto de um texto sobre Herberto Hélder]