sexta-feira, 24 de junho de 2011

Memórias Intactas

A voz de António Osório chegou à literatura portuguesa com a serena gravidade da sabedoria. Serena na sua delicadeza primordial, grave pelo pendor clássico dos temas e pela funda seriedade, sábia pela certeza aforística das palavras e pelo suave manejo da ironia. Emanando do legado de Orfeu, a sua escrita tem o condão de revelar, ou, melhor, de criar a evidência poética das coisas comuns. Olhar «atónito», de quem «anda nas nuvens», o Poeta estabelece nexos subtis na sintaxe dos acontecimentos e torna a própria realidade visível, chegando até a criar a ilusão de que a poesia pode existir fora do poeta, e não exclusivamente pela sua justíssima palavra. [no lançamento de Libertação da Peste ]