segunda-feira, 23 de maio de 2011

Livros e marketing

Ontem, em conversa, uma criança de sete anos concluiu, por si própria, que o marketing serve para vender «coisas que não interessam».
Quando foi que as casas editoras começaram a querer ou a precisar de vender coisas que não interessam, entregando o negócio nas mãos dos «marketistas» e das direcções comerciais?
A massificação, a crise da leitura, a segmentação, enfim, o mercado, ou uma certa ideia dele, impuseram a necessidade de uma estrutura empresarial mais profissional, racional e rentável.
Foi assim, mais ou menos, que à indústria do livro chegou gente com pouca ou nenhuma relação íntima com os livros (relação que as pequenas editoras  não só mantêm como de um modo geral afirmam), mas que, ao que parece, percebia de «mercados» e de como agir sobre eles. E a sua influência e acção passou a marcar fortemente a produção livreira, para o bem e para o mal.
Porém, estas pessoas, ou uma parte delas, para não ser demasiado severo, têm sérias limitações e uma percepção bastante deficiente e torcida sobre como produzir livros, além de uma desconsideração sem limites pelo público ao qual querem vender os livros que produzem. E os livros acabam por reflectir, paradoxalmente, uma grande falta de profissionalismo.
Não me quero alongar, neste momento, sobre isto, mas apenas dizer o seguinte: se eu fosse editor, a primeira qualidade que exigiria (o que pressupõe a existência de uma hierarquia clara) a um «marketista», nem que fosse por mero exercício, era ser capaz de «vender» bem «coisas que interessam». Nesse processo, ele certamente tomaria consciência das suas insuficiências.