Dois dias, dois filmes
A história de O escritor-fantasma, do experiente Roman Polanski, é bem narrada, mas assenta nos múltiplos estereótipos de um argumento, cuja pretensão à complexidade narrativa é directamente proporcional ao simplismo da sua «mensagem». É convencional e, em muitos aspectos, previsível. Se a ideia era fazer um filme politicamente perturbante, a mim perturba-me que essa intenção se fique por um filme como este.
O filme de Luca Guadagnino, Eu sou o amor (verso da ária «La mamma morta» da ópera Andrea Chénier, de Umberto Giordano), que actualmente se reduz a uma única sessão diária, numa única sala de cinema, é outra loiça. O realizador italiano retoma, de forma exemplar, a lição e os temas de alguns mestres, sobretudo Visconti e sobretudo a ideia de decadência e de transformação, mas retoma, reiventando por completo, quer do ponto de vista visual e plástico, quer do ponto de vista narrativo. É um filme belíssimo, soberbamente interpretado.