Virtuosismo
Desconcertante, audacioso e sem precedentes? Notas sem conta
transmitidas no mais curto tempo possível? Um ribombar, soltado com entusiasmo?
Isto soa a bravura pelo amor da bravura. Uma parte considerável do público agradecê-la-á
com arrebatamento. Mas o estudo Romântico apontava mais alto. Desencadeado
pelos Caprichos de Paganini, o tecnicamente novo e o nunca ouvido antes tinha de ser contrabalançado
e justificado pela novidade musical, a coragem e a poesia. A seguir ao cume que
são os estudos de Chopin, os de Schumann, Liszt e Brahms (Variações Paganini), bem como os de Debussy, Bartók e Ligeti, dão
ao pianista a possibilidade de provar que, na sua interpretação, a música leva
a melhor. O virtuosismo, a propósito, revela-se útil mesmo se não passarmos
a maior parte das nossas horas de trabalho a lidar com estudos — na verdade,
particularmente nesse caso.
Frequentemente, quando postos diante de sequências de escalas e sucessões rápidas de notas,
os intérpretes não conseguem evitar tocar mais depressa. Há uma
aceleração involuntária na interpretação de pianistas tecnicamente dotados — a
menos que a sua musicalidade lhes fiscalize os dedos. Tocar demasiado depressa
pode bem constituir um esforço físico menor do que cultivar uma disciplina que
controle cada um dos dedos.