sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Virtuosismo

Desconcertante, audacioso e sem precedentes? Notas sem conta transmitidas no mais curto tempo possível? Um ribombar, soltado com entusiasmo? Isto soa a bravura pelo amor da bravura. Uma parte considerável do público agradecê-la-á com arrebatamento. Mas o estudo Romântico apontava mais alto. Desencadeado pelos Caprichos de Paganini, o tecnicamente novo e o nunca ouvido antes tinha de ser contrabalançado e justificado pela novidade musical, a coragem e a poesia. A seguir ao cume que são os estudos de Chopin, os de Schumann, Liszt e Brahms (Variações Paganini), bem como os de Debussy, Bartók e Ligeti, dão ao pianista a possibilidade de provar que, na sua interpretação, a música leva a melhor. O virtuosismo, a propósito, revela-se útil mesmo se não passarmos a maior parte das nossas horas de trabalho a lidar com estudos — na verdade, particularmente nesse caso.
Frequentemente, quando postos diante de sequências de escalas e sucessões rápidas de notas, os intérpretes não conseguem evitar tocar mais depressa. Há uma aceleração involuntária na interpretação de pianistas tecnicamente dotados — a menos que a sua musicalidade lhes fiscalize os dedos. Tocar demasiado depressa pode bem constituir um esforço físico menor do que cultivar uma disciplina que controle cada um dos dedos.


Alfred Brendel, A Pianist’s A to Z. A Piano Lover´s Reader, Faber and Faber, Londres, 2013.