segunda-feira, 3 de junho de 2013

Tragicomédia Lusitana

                           para Orlando Farinha

I
Apruma-se à aproximação
de sólidas passadas assentes
na calçada. Num impulso,
lança mãos ao pescoço
e ajeita o nó corredio.´


II
Descosido, desfiado,
sem botões, comprimido
sobre o tronco
com tiras e cordões –
nem é pelo frio,
é pelo próprio colete.

III
As chancas, barcas apodrecidas
na doca seca do tempo,
nada retêm na joeira da lembrança,
no histórico das errância.
Mas saíram bons, os sapatos:
têm durado uma vida inteira.


IV
Acomoda lastro, pedras de acaso,
peso calculado,
na copa do chapéu pousado diante de si.
Receio de vendaval ou arruaça,
supõem todos. Não.
Apenas arrimo, âncora de um momento, 
para o caso de – criatura de Chagall –
a fantasia o libertar da gravidade
da situação.