sábado, 23 de fevereiro de 2013

Boas notícias por más razões

Multiplicam-se as notícias de que as narrativas breves conhecem hoje um aumento de popularidade.
Não há muito tempo, os editores lamentavam-se de que a publicação de livros de contos se tornara impossível, pois não havia procura. Os livros não se vendiam.
Também eu lamentei a menorização do conto relativamente ao romance. A arte do conto é, a muitos títulos, bem mais difícil do que a do romance: a brevidade exige um domínio absoluto dos meios. A imperfeição que perdoamos no romance, no conto pode ser imperdoável.
Como se dizia alguém no fim de uma longa carta a um amigo, «desculpa, mas não tive tempo de escrever menos». Escrever menos exige mais tempo, mais técnica, mais concentração, mais densidade.
Porém, as tais notícias acrescentam que a narrativa breve se impôs de novo devido à internet e fica implícito que isso se deve às necessidades de escrita (e de leitura, digo eu) impostas pelos mecanismos oferecidos por este meio de produção e difusão.
Que haja um renascimento do interesse pela história curta, é bom. Mas é preciso não esquecer que ela exige também uma maior concentração da parte do leitor. Ler um aforismo, um fragmento, um micro-conto, uma ficção breve não demora um instante. Bem pelo contrário.