quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Corpo em decomposição

O jornal Público deu ontem relevo à invenção de um facto histórico nas páginas da Wikipédia. Por razões de ordem profissional, antigas e recentes, conheço razoavelmente bem as debilidades estruturais deste instrumento, e a natureza delas, mas também as suas virtudes e vitalidade.

Nada do que foi noticiado é motivo para grande espanto. Mas a notícia oferece-me um fundado pretexto para falar de um assunto sobre o qual tenho evitado escrever aqui.

Como algumas pessoas sabem, trabalhei durante muito anos com um importante conjunto de conteúdos enciclopedicamente organizados. Um «importante conjunto» significa aproximadamente trinta mil páginas impressas a duas colunas, correspondendo, em números redondos, a cerca de cem mil textos autónomos.

Esse maciço repositório informativo é hoje um bloco inerte e esquecido que se enche de bicho e bolor a cada dia que passa. Mas que, a cada dia que passa, se revela mais singular, na sua dimensão informativa e educativa, e mais apetecível do ponto de vista editorial, independentemente da natureza e do formato do seu suporte. Mais necessário, portanto, para preencher um vazio que a passagem dos anos teimou em não preencher de forma convincente.

Mas esse corpo em decomposição acelerada precisaria de reanimação urgente e dedicada, antes que dele apenas reste o odor acre da extinção.