quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Fernando Guedes, editor

Quando, ao fim de mais de dez anos de trabalho e de convivência diária, a reedição da Enciclopédia terminou, tive mais uma longa conversa com Fernando Guedes sobre as perspectivas de continuidade. Apresentei-lhe várias ideias. Depois de me escutar durante algum tempo em silêncio, levantou-se da magnífica secretária desenhada por Daciano da Costa, passou diante da grande tela de Fernando Lanhas que ocupava a parede atrás dela e levou-me até à mesa de reuniões, sobre a qual estavam duas pilhas de livros. Mostrou-mos: eram livros de História, ensaios sobre Arte e outros temas. Tudo edições portuguesas. Como quem despeja um balde de água fria numa cabeça inflamada, disse-me: «eram livros assim que eu gostaria de publicar. Mas não me deixam. Os comerciais é que decidem o que se pode ou não editar. Estou reduzido a isto. Não venha com grandes ideias. Só é possível fazer o que os comerciais deixarem que se faça».
Este confronto entre o pragmatismo e a vontade, entre os triunfos do passado e as inseguranças do presente, constituiu um dos últimos combates do grande editor e fundador da Verbo.
Evidentemente, hoje não faltarei ao lançamento deste livro, cuja ideia inicial de certo modo acompanhei há uns bons cinco anos, tinham os Booktailors acabado de surgir.