quarta-feira, 22 de junho de 2011

Europa

A arqueologia e o artesanato ligados à interpretação da música antiga representam uma certa possibilidade de existência da Europa. Alaúdes, harpas, cravos, violas d’amore, violinos, violas de gamba, órgãos, flautas, charamelas, oboés, chitarrones, teorbas, trompas, cornetas estabelecem uma genealogia e uma heráldica do engenho. Cortesia e ornamento. O ar colora-se de cantatas e tocatas, fugas, suítes, sonatas. O jogo dos contrastes molda as formas do concerto. Festa e lamento. Num gesto liberal de vencedor, a música incorpora a palavra e opera o nascimento da ópera. Solene, dramático ou apenas amável, o sopro do sagrado transcende a liturgia e a música torna-se matéria e glória do Espírito. Na composição europeia das formações musicais de hoje ressurge uma Europa cooperativa, de rios e cidades, de afãs e de ofícios, de gente ligada em volta da sua música. O modelo da sua impossibilidade política.