terça-feira, 7 de junho de 2011

A diferença

Distante e discreto, um poema de Alberto de Serpa (dedicado a Pessoa) incluído num livro oferecido «a Jorge de Lima, grande poeta do Brasil», edição presencista dos anos trinta, tem um verso penetrante: «O poeta é independente. Só ele sabe.» Esta defesa da autonomia do poeta tem um lugar na época em que foi escrita, como sabe quem conhece as batalhas do segundo modernismo, que aliás saía a terreiro para defender o primeiro. Esta singularidade do saber do poeta (particularmente a natureza desse saber) está na base de uma altivez, só plenamente compreendida sobretudo por outros poetas. Porém, como toda a gente não se cansa de dizer, o mundo mudou, e esta defesa também serve hoje, implicitamente, muitas vezes, para justificar o desvario e o disparate. Mas o mesmo poema de Alberto Serpa também declara com lucidez «a poesia não está nos assuntos poéticos»: «a poesia está no poeta». E isso continua a fazer toda a diferença.