segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Caçadas de vária ordem

Polémica no Brasil sobre obra de Monteiro Lobato. Eis a posição da Academia Brasileira de Letras:

A Academia Brasileira de Letras se posicionou contrária à tentativa de censura ao livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, pedida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que alegou ter conteúdo racista na obra do escritor.
Em reunião plenária realizada na tarde do dia 4 de novembro, na ABL, a Casa manifestou repúdio “contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística”, e apoiou o Ministro da Educação, Fernando Haddad, contrário à determinação do CNE, que proibiu a circulação do livro no país.
De acordo com a decisão dos Acadêmicos, “cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica. Um bom leitor sabe que tia Anastácia encarna a divindade criadora dentro do Sítio do Picapau Amarelo. Se há quem se refira a ela como ex-escrava e negra, é porque essa era a cor dela e essa era a realidade dos afro-descendentes no Brasil dessa época. Não é um insulto, é a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica”.
A ABL sugere ainda que seria muito melhor se os responsáveis pela educação estimulassem uma leitura mais aprofundada por parte dos alunos, ao invés de proibir as crianças de saberem disso.
Os Acadêmicos afirmaram que é necessário aos professores e formuladores de política educacional ler a obra infantil de Lobato e se familiarizar com ela. “Então saberiam que esses livros são motivo de orgulho para uma cultura. E que muito poucos personagens de livros infantis pelo mundo afora são dotados da irreverência de Emília ou de sua independência de pensamento. Raros autores estimulam tanto os leitores a pensar por conta própria quanto Lobato, inclusive para discordar dele. Dispensá-lo sumariamente é um desperdício. A obra de Monteiro Lobato, em sua integridade, faz parte do patrimônio cultural brasileiro e apelamos ao senhor Ministro da Educação no sentido de que se respeite o direito de todo cidadão a esse legado, e que vete a entrada em vigor dessa recomendação”, concluíram os Acadêmicos.


Os ecos da polémica não chegaram ainda a Portugal dadas a distância e as dificuldades de comunicação.