terça-feira, 14 de setembro de 2010

Surf e edição

Houve um tempo em que os adeptos do surf eram facilmente identificáveis pelo vestuário e pelo penteado. Hoje a coisa é diferente. Os surfistas adolescentes estão menos estandardizados e há gente mais diversificada de prancha às costas. O que não mudou foi o facto de toda essa gente passar horas dentro de água à espera da «onda» boa. É assim nas praias que frequento, provavelmente não as melhores para a prática do surf, mas cheias de surfistas na mesma. A onda boa tarda, mas quando vem revela-se frouxa e sem dimensão (não domino jargão do surf, peço desculpa) e o surfista mantém-se em pé por segundos, para logo mergulhar e ficar, de novo, à espera «da» onda, até decidirem, por fim, voltar para casa, enregelados ou, pelo menos, com uma expressão enregelada.
Sem que nada o fizesse prever, dei comigo a comparar estes surfistas aos editores. Alguns editores. Sempre à espera de uma boa onda que consigam cavalgar. Mas na maior parte dos casos ela, a onda, revela-se frouxa e sem dimensão. E lá ficam a tentar subir nas ondinhas.
E esta reflexão, despretensiosa como se vê, fez com que me lembrasse do catálogo de algumas editoras em determinados períodos, por exemplo, o da Ulisseia, que conheci de mais perto, nos anos 60, que registava autores (muitos viriam a ser premiados ao mais alto nível vinte, trinta ou quarenta anos depois) escolhidos por corresponderem a um determinado padrão ou a uma determinada ideia de literatura.
Bem sei que tudo mudou. A começar pelo padrão a que se quer corresponder e pela ideia de literatura que lhe está subjacente.