Presunção e atrevimento
Sei de um certo professor de Língua Portuguesa do ensino secundário que, nos testes de avaliação, propõe a interpretação e análise de textos escritos por si próprio.
Há nisto uma presunção sem limites, só perceptível à luz do estado de inanidade a que as coisas chegaram. Há nisto um atrevimento que roça a ingenuidade, para não dizer a patetice.De distorção em distorção, a coisa dá azo a que a criatura, escorando-se unicamente no seu auto-proclamado estatuto de «autor» («não foi isso que eu quis dizer quando escrevi isso»), só autorize certas análises e interpretações, ou certas observações.
Nada legitima uma tal coisa, mesmo que o homem fosse um escritor. Repito: um «escritor», e não apenas um tipo que escreve umas coisas, embora com todo o direito a escrevê-las, diga-se.
Houve um tempo em que havia muitos grandes escritores que, ao mesmo tempo, eram professores e prestigiavam o ensino (da Língua, mas não só). Não me consta, porém, que propusessem os seus próprios textos aos alunos, muito menos em testes de avaliação.
É mau. É manhoso. É tão mau e tão manhoso como haver editores que se publicam a si próprios. E não estou a falar de edições de autor.