quinta-feira, 3 de junho de 2010

Dante Milano

nnnnnnnnnnnnnnnnnHomenagem a Camões

Através de imitado sentimento,
Ao ler-te, quanta vez tenho sentido
Como é muito maior o amor vivido
Em ato não, mas só em pensamento.
Então invento o que amo e amo o que invento
Em coisas sem razão tão comovido
Que o ar me falta e o respiro comprido
Não sei se dá, não sei se tira o alento.
Sabor de amor é esse alto respirar,
Essa angústia em suspiros mal dispersos.
Em amor, que importância tem o ar,
O ar, cheio de fantásticas ações!
Assim aquele que imitar teus versos,
Primeiro imite o teu amor, Camões.

Dante Milano

Nota: Dante Milano (Rio de Janeiro, 1899 - 2001) deixou escritos 141 poemas. Publicou pela primeira vez, quase aos 50 anos de idade, por iniciativa de um amigo, que teve de usar um estratagema para levar os poemas ao editor. Foi amigo de poetas e pintores (Manuel Bandeira, Portinari, Heitor Villa-Lobos, Mário de Andrade, Ribeiro Couto). Traduziu Dante, Horácio, Baudelaire, Mallarmé e outros. Num texto introdutório a algumas traduções, registou, numa célebre frase certeira, que «Pode-se traduzir o que um poeta quis dizer, mas nunca o que ele disse.» Ivan Junqueira, na antologia que organizou da poesia de Dante Milano (Global Editora, São Paulo, 1998), transcreve palavras de Drummond de Andrade proferidas durante uma entrevista,, em 1987: «Dante Milano é um poeta de extraordinária qualidade que não tem a mínima popularidade. Se você perguntar a um estudante quem é Dante Milano, ele não sabe. Se perguntar quais são os melhores poetas brasileiros, ele não inclui Dante Milano. A popularidade então não tem a menor importância.» Conta-se que, em certo momento, o nome de Dante Milano foi considerado para o Prémio Camões, mas rapidamente descartado, pois ninguém o conhecia e a sua obra estava esgotada, não havia entrevistas com ele, não havia fotografias nem imagens de televisão... Ivan Junqueira conta que ele e Lêdo Ivo foram os únicos escritores presentes no seu funeral.