quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pátria

Trago a minha pátria comigo como a memória traz as recordações. É um país sem fronteiras, do qual só eu sou guia e anfitrião. Os seus lugares, belos ou terríveis, só eu os conheço. A casa solarenga, construi-a eu só, com actos e sonhos meus. Nela tive muitos convidados; uma parte deles permanece junto de mim, celebrando o banquete; alguns foram-se; outros, provavelmente, hão-de vir. Ainda que, por vezes, penso que a minha pátria não tem nem convidados nem casa nem país, e se reduz à minha própria sombra durante apenas um instante antes do meio-dia.

Rafael Argullol, El cazador de instantes. Cuaderno de travesía (1990-1995), El Acantilado, Barcelona, 2007.