quinta-feira, 22 de abril de 2010

Poética

Arte poética
a Gilberto Mendonça Teles

A ordem das palavras,
dilacerada pelo alçado das casas, ou
fendida pela nervura de pequenos acasos
visíveis
no recorte de caules carcomidos, ou atacada
de orgíacos bolores,
vestidos da mesma terra negra,
vermelha
de vermes vivos por dentro,
em que enterro as mãos, raízes
inábeis, deslembradas da
laboriosa e competente simplicidade
da sintaxe:
talvez a poesia não seja
o lugar onde
se nasce, mas tão só
um estado a que se chega.

Publicado em A Plumagem dos Nomes. Gilberto: 50 anos de literatura (org., introd. e notas de Eliane Vasconcelos), Editora Kelps, Goiânia, 2007 [livro de homenagem ao poeta Gilberto Mendonça Teles]