Enfans, enfans, de moy, Adam, venuz
Crianças, que descendem de mim, Adão,
Que sou o primeiro pai, segundo Deus,
Criado por ele, vós sois todos nascidos
Naturalmente da minha costela e de Eva;
Ela foi vossa mãe.
Como é que um é vilão e o outro tem o nome de gentileza?
Que lhes dais, irmãos? De onde vem essa nobreza?
Eu não sei, a menos que venha das virtudes
E os vilãos de tudo o que envilece:
Todos sois revestidos da mesma pele.
Quando Deus me fez da lama onde permaneço,
Um homem mortal, fraco, pesado e vão,
Eva de mim, ele criou-nos a todos nus,
Mas o espírito inspirou-nos inteiramente,
Depois ficámos perpetuamente famintos e com sede,
Trabalhamos, sofremos e criamos filhos com aflições;
Por nossos pecados têm as mulheres os filhos com dores;
sois concebidos na vileza.
Todos sois revestidos da mesma pele.
Os reis poderosos, os condes e os duques,
O governador do povo e o soberano,
Quando eles nascem de que são eles vestidos?
De pele conspurcada.
... Príncipe, lembra-te sem desdém das pobres gentes,
pois a morte é que segura as rédeas.
Versão de Augusto Abelaira
Qui après Dieu suis peres premerain
Crée de lui, toud descenduz
Naturelement de ma coste et d'Evain;
Vo mere fut. Comment est l'un villain
Et l'autre prant le nom de gentillesce?
De vous, frères? dont vient tele noblesse?
Je ne le sçay, se ce n'est des vertus,
Et les villains de toute vice qui blesce:
Vous estes tous d'une pel revestuz.
Quand Dieu me fist de la boe ou je fus,
Homme mortel, faible, pesant et vain,
Eve de moy, il nous crea tous nuz,
Mais l'esperit nous inspira a plain
Perpetuel puis eusmes soif et faim,
Labour, dolour, et enfans en tristesce;
Pour nous pechiez enfantent a destresce
Toutes femmes; vilment estes conçuz.
Vous estes tous d'une pel revestuz.
Les roys puissans, les contes et les dus,
Le governeur du peuple et souverain,
Quant ilz naissent, de quoy sont ilz vestuz?
D'une orde pel.
...Prince, pensez, sans avoir en desdain
Les povres gens, que la mort tient le frain.