segunda-feira, 20 de maio de 2013

Carlos Queiroz

Comemorou-se ontem um «Dia Carlos Queiroz» no Centro Cultural de Belém, com uma série de intervenções e a inauguração da exposição «Carlos Queiroz e os Artistas do Seu Tempo» (que estará patente até 15 de Junho).

Louvável iniciativa, tanto mais que corresponde a um aparente renascer do interesse sobre o poeta, interesse espicaçado mais uma vez por uma estudiosa «de fora». Cá dentro, a obra poética de Carlos Queiroz está esgotada há anos e assim se tem injusta e injustificadamente mantido. Anuncia-se agora uma edição crítica. Ainda bem. Mas esperemos que isso não sirva para deixar tudo como está: sem uma edição simples e acessível da poesia deste Autor.

Publiquei, em 2007, no ano do centenário do nascimento do Poeta, um texto precioso de António Manuel Couto Viana sobre Carlos Queiroz (Annualia Verbo, 2007-2008) acompanhado de uma carta íntima, gentilmente cedida por Maria da Graça Queiroz, datada de Dezembro de 1937, e que é, a vários títulos, muito interessante.

Eis um excerto:

«Há quem queira - e é, talvez, a maioria - fazer-se passar por poeta, por artista, ou por escritor. Por vaidade ou por qualquer outro motivo, que não importa destrinçar. Esses, são felizes, porque é sem sofrimento que escrevem ou pintam o que pensam ou sentem e não precisam doutro estímulo senão da vaidade ou da satisfação de terem escrito ou pintado. Mas quem é poeta ou artista porque nasceu assim (e aqui não se trata de ter muito ou pouco talento mas de ser ou não ser) é-o por uma espécie de maldição, de fatalidade, ou coisa parecida. Não quer produzir - e há uma força oculta que o obriga a produzir. Gosta e não gosta do que produziu - e sofre com este movimento pendular. Não consegue exprimir o que sentiu ou pensou, e odeia-se por isso. Tenta esquecer a necessidade orgânica - por assim dizer - de criar, de aprofundar uma ideia ou de dar expressão literária a um sentimento, e há uma voz interior que lhe diz que não tem o direito de fugir a essa missão.
[...]
Foram assim todos, a quem os homens devem o que de mais belo a humanidade produziu, e a quem até os mais frívolos e mundanos - muito no íntimo - admiram e invejam. Não é com vaidade que te confesso que me considero um desses, porque sei quantos degraus me separam do alto patamar a que chegaram, e estou agora a sofrer uma das muitas consequências nefastas de ter nascido assim».