segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Dinianga dia Ngombe

Uma vez Dinianga dia Ngombe pegou na espingarda e resolveu ir caçar. Penetrando no mato encontrou um veado a comer mudia-mbambi. Aproximou-se de uma árvore, mas não se demorou. Regressou a casa, aguardou a hora de o veado comer, e voltou ao mesmo sítio. Levou a espingarda, chegou ao pé da árvore, trepou e ficou à espreita. Quando viu o veado levou a espingarda à cara e disparou. A presa caiu redonda no chão. O caçador puxou-a por uma perna e acabou de a abater a machado. Tirou da cinta uma faca e principiou a esfolar o veado. Quando supunha o trabalho concluído e já tinha a pele nas mãos o veado pôs-se de pé e fugiu com uma rapidez vertiginosa. A certa distância parou. O caçador, que conservava a pele nas mãos, pensou: que coisa espantosa acaba de me suceder? O veado que matei deixou a pele nas minhas mãos e fugiu! Dirigindo-se ao veado: Ficarás envergonhado quando chegares junto dos teus pais e te disserem: Vieste nu! Que é feito da tua pele? A vítima respondeu: A vergonha será maior para ti, Nianga, quando em casa disseres à família: atirei a um veado, matei-o, esfolei-o e depois ele fugiu deixando nas minhas mãos somente a pele. Dinianga não respondeu, voltou para casa com a espingarda e aí encontrou a mulher e os parentes, a quem narrou o sucedido. Todos se riram dele e assim o veado ganhou a partida.

Contos Populares de Angola (Cinquenta Contos em Quimbundo Coligidos e Anotados por Héli Chatelain), Agência-Geral do Ultramar, Lisboa, 1964.