quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

No fim, o vento

Praças, praças desertas, ruas estreitas, casas vazias de portas vazadas, atravessadas por finíssimo pó, terra devastada, levantada, levada pelo vento. Depois, no fim, só o vento que tudo varreu permanece.

ouvindo os Salmos de Arrependimento (12 Bubverse für gemischten Chor), de Alfred Schnittke(sobre salmos penitenciais russos, anónimos, do século XVI).

XI
Vim a este desgraçado mundo
com uma criança nua.
Nu partirei novamente desta vida.
Desamparado nus, porque nos deveríamos
queixar para quê inquietarmo-nos sem fundamento,
sabendo que as nossas vidas não são eternas?
É belo como, do mesmo modo,
saímos da escuridão para a luz,
da luz para a escuridão,
do ventre, uivando, para o mundo,
e da sombrio mundo para a sepultura.
Lágrimas no começo, lágrimas no final.
Onde está a necessidade de tudo o que fazemos?
Sonho, sombra, tentação
que são a beleza do quotidiano passar dos dias.
Ó magia da nossa vida diversa!
Como as flores, como a poeira e as sombras
ela passa.