domingo, 29 de maio de 2011

Aves, palavras

Na maturidade de um texto imenso, vemo-las [as aves] sempre em formação, amadureceram como frutos, ou melhor como palavras: ao mesmo tempo seiva e substância original. E como se parecem com as palavras sob a sua carga mágica: nós de força e de acção, focos de relâmpagos e emanações, levando ao longe a iniciativa e a premonição.

Sobre a página branca de margens infinitas, o espaço que elas medem não é mais do que encantamento. São, como na métrica, quantidades silábicas. E procedendo, como as palavras, de longínqua ascendência, perdem, como as palavras, o sentido do limite da felicidade.

Saint-John Perse, Oiseaux, 1963 (excerto).