O ar do tempo
Morreu, há algumas semanas, Aníbal Pinto de Castro, um antigo professor de Coimbra e antigo director da Biblioteca Geral da Universidade, estudioso de Camões e Vieira, camilianista inveterado, director do Centro de Estudos Camilianos de São Miguel de Seide. Homem de mil actividades, tinha, por vezes, um temperamento difícil e controverso. A solidez e sobriedade do seu saber constituíam como que o contraponto do seu modo extravasante de ser. Dedicou-se a numerosas obras sociais e assistenciais, mas creio que viveu em grande solidão.
Não apareceu, na imprensa de âmbito nacional, uma única linha escrita sobre o homem. Nem sequer a notícia da morte. Tivesse ele ido para uma praça qualquer acenar amistosamente a quem passasse, em vez de coleccionar uma biblioteca rara e formidável como a sua, ou de lançar diatribes contra um estado das coisas a que não se resignava, decerto teria ganho o pequeno céu da celebridade jornalística.