quinta-feira, 1 de julho de 2010

Memórias Intactas

Tive uma adolescência cinéfila: sessões três vezes por semana. Participava na escolhas das fitas, feitas por catálogo das distribuidoras, e a selecção era renhida. Estudava-se o género, discutia-se o realizador, esgrimiam-se nomes de actores, os bons e os canastrões, debatiam-se as pernas das beldades, fazia-se o cálculo mental das palpitantes promessas dos corpos, antecipava-se o desfecho do duelo final, contabilizavam-se as probabilidades do riso, ponderava-se o público. Era necessário dosear. Ajudava a colocar os cartazes, na rua, e a contemplar longamente as fotografias que neles se exibiam talvez tenha aprendido a perceber melhor a arte do cinema. Nas sessões nocturnas, se não tinha idade suficiente, refugiava-me na cabina do projeccionista, assistia-o quando a fita se partia, e dali seguia os filmes. Magnífica escola. Depois, verifico sem nostalgia, eu parti, a sala fechou.