sexta-feira, 9 de julho de 2010

Memórias Intactas

John Wayne compôs, ao longo dos anos, uma figura muito característica, desde logo marcada pelos quase dois metros de altura, pela lentidão arrastada da fala, o cenho franzido, os olhos semicerrados, o andar deselegante, um certo ar desajeitado. Ele foi o «duro», pesado mas ágil, sagaz mas convencional, franco mas tímido, rabugento mas gentil, corajoso mas sem alarde, solitário mas apaixonado (muitas vezes pela ordem inversa), implacável mas não cruel, conservador e fiel sem qualquer «mas», que marcou impressivamente um período significativo do cinema americano — se não encarnou mesmo a imagem de uma certa América do Norte. Igual a si mesmo, parecia um actor sem grande versatilidade, mas isso que poderia ser uma limitação, nele constituiu uma escola de matizes, sobretudo ditadas pela entrega, pela instintiva compreensão das personagens, pelo extraordinário domínio da cena, pela fusão com o cenário desértico ou rochoso. Essa escola de matizes permitir-lhe-ia fazer algumas das suas melhores personagens: Sean Thornton em The Quiet Man, Ethan Edwards em The Searchers ou John T. Chance em Rio Bravo.