Uma dedicatória
Ao meu caro Amigo Haydn
Um pai, tendo resolvido enviar os seus filhos pelo vasto mundo, estimou dever confiá-los à protecção e à conduta de um homem muito célebre daquele tempo, o qual, por um feliz acaso, era também o seu melhor amigo. Eis então, homem ilustre e muito caro amigo, os meus seis filhos. Eles são, é bem verdade, o fruto de um longo e penoso labor, e, no entanto, a esperança, que diversos amigos me deram, de o ver, pelo menos em parte, compensado, lisonjeia-me e encoraja-me a pensar que me servirá, um dia, de alguma consolação. Tu próprio, muito caro amigo — aquando da tua última estada nesta capital — me exprimiste a tua satisfação. O teu juízo alegra-me acima de todas as coisas — de tal modo que tos envio — na esperança de eles não te parecerem de todo indignos do teu favor. Que te agrade, por isso, acolhê-los com benevolência e seres o seu Pai, Guia e Amigo! Desde já te cedo os meus direitos sobre eles: suplico-te, contudo, para considerares com indulgência os defeitos que o meu olho clemente de pai me pode ter ocultado, e de conservar, apesar deles, a tua generosa amizade por aquele que tanto a aprecia. Permaneço, entretanto, muito caro amigo, de todo o coração
teu muito sincero amigo
W. A. Mozart
Dedicatória de Mozart na primeira edição dos Seis quartetos de corda a Joseph Haydn (originalmente escrita em italiana, e traduzida da edição francesa: Mozart. Lettres des jours ordinaires 1756-1791, trad. de Bernard Lortholary, Fayard, 2006).