segunda-feira, 14 de junho de 2010

Memórias Intactas

Fui apresentado a «As gémeas Lea e Maria», no nono andar da Rua Tonelero, em Copacabana. Geminadas em seu canapé, naquele terraço aberto sobre o tempo e o sonho, olhavam-me num silêncio embaraçoso. Ao estender-lhes, invisíveis, minhas mãos, repetia nesse gesto sem voz a súplica de Cecília Meireles: «Levai-me a esse reino do rei Guignard.» Reencontrei-as na grande exposição do Museu Nacional de Belas Artes, que acabava de inaugurar. Aí, em cada paisagem de Ouro Preto, navegando entre brumas e templos, descobri o recatado deslumbramento do reino visionário de Guignard, poeta cujo amor da pintura foi capaz de se enobrecer até em peças de mobiliário lírico. Pude ver — por uma vez reunidas — as estações da Via Sacra, e delas guardo profunda e prolongada impressão. Ah, que saudades do reino de Guignard!