quinta-feira, 13 de maio de 2010

Casa da Misericórdia

O pai fuzilado.
Ou, como diz o juiz, executado.
A mãe, a miséria e a fome,
a instância que alguém lhe escreve à máquina:
Saludo al vencedor, Segundo Año Triunfal,
Solicito a Vuecencia deixar os filhos
nesta Casa da Misericórdia.

O frio do seu amanhã está numa instância.
Os orfanatos e os hospícios eram duros,
mas ainda mais dura era a intempérie.
A verdadeira caridade dá medo.
É como a poesia: um bom poema,
por mais belo que seja, tem de ser cruel.
Não há mais nada. A poesia é agora
a última casa da misericórdia.

Joan Margarit, Casa da Misericórdia, trad. de Rita Custódio e Àlex Tarradellas, ed. bilingue, Ovni, Entroncamento, 2009.