quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dez greguerías

Aquele tipo tinha um tique, mas faltava-lhe um taque: por isso não era relógio.

A sopa das grandes casas senhoriais sabe às luvas do criado que a serve.

«Pão» é uma palavra tão breve para que possamos pedi-lo com urgência.

O sonho é um depósito de objectos extraviados.

No fundo dos espelhos há um fotógrafo escondido.

Era um pintor tão velho que os pincéis tinham ficado calvos.

Escrever com lápis é marcar apenas as sombras das palavras.

A água não tem memória: por isso é tão límpida.

Os aplausos são como as costoletas: muito osso e pouco que comer.

O pássaro, para que a pomba o deixe comer, tem de a fazer acreditar que é seu sobrinho.

Ramón Gómez de la Serna, Greguerías. Selección 1910-1960, Editorial Optima, col. Odisea, 10.ª ed., Barcelona, 1997.