quarta-feira, 10 de março de 2010

Seis proposições

A ourivesaria do entalhe, da ligação, da passagem, essa renda de regressos, maré paciente, ciência da respiração, está sempre aquém e além de nós, do lado da música.

A música e a poesia são artes do silêncio. São partes do silêncio. Daí que, para as compreendermos, seja preciso aprender a escutá-lo como quem escuta dentro de si uma voz divina.

A música e a poesia são artes da solidão. São excertos de um monólogo, de um rumor contínuo. Nascem tanto da súbita vontade de falar como da necessidade premente de terminar a conversa.

O que há de eterno na música? O que ela nos diz, o que nos faz sentir, o que ela revela ou nos faz descobrir? Não. O que há de eterno na música é o que fica do que o músico sentiu ou descobriu, do que lhe foi revelado e ele disse para si. É espantoso como isso nos pode tocar, embora não tenha importância nenhuma.

O canto, que é o som do espírito, é anterior à poesia e à música. Depois, com o tempo e com a química, tornou-se-lhes interior.

O canto pertence à fisiologia, produz-se com as vísceras; é corpóreo, tem altura, volume, profundidade, cor, brilho, textura, sangue, sabor, cheiro, peso. Como o vinho.