Para onde ninguém olha
En un petit pople
Uns baios foscos en un carrer estret:
surt el so d'un martell i polls de runa.
Pel forat de la porta es veu a penes
un home sol que està picant i un vell
que vora seu se'l mira. No conversen,
com si els dos escoltessin en els cops
un dolor que només ells reconeixem.
La porta ara em devora la mirada
i se l'endú ferotge cap a dins.
Si m'acostés, potser ni em sentirien.
Són les interminables, lentes obres
de la casa per dins, on ningú mira.
Numa pequena aldeia
Uns rés-do-chão escuros numa viela:
sai o som de um martelo e pó de escombros.
Pelo buraco da porta vê-se apenas
um homem que está a martelar sozinho
e um velho que a seu lado o olha. Não conversam,
como se os dois escutassem nos golpes
uma dor que apenas eles reconhecem.
A porta agora devora-me o olhar
e leva-o feroz para dentro.
Se me aproximasse, talvez nem me ouvissem.
São as intermináveis e lentas obras
da casa por dentro, para onde ninguém olha.
Joan Margarit, Casa da Misericórdia, trad. de Rita Custódio e Àlex Tarradellas, ed. bilingue, Ovni, Entroncamento, 2009.
NOTA: Um bom livro de poesia e uma bela edição, cuidada, como é raro ver hoje em dia.