sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Credibilidade

Credibilidade não assente, aquela a que te obrigam. Mós de moinho. Por que acreditar no que é mal contado? Era genial. Opiniões. Faz-me ver, partilhar, de algum modo, que era genial. Conta-me o que provocou em ti, se alguma coisa provocou, e então talvez isso se contagie. Senão, não se contagiará. Não se contagia, e não serve a ninguém, o vírus que não se tem. Não se trata de «faz-me acreditar» com argumentos apologéticos, mas sim de transmitir uma emoção. Mas, para isso, é preciso tê-la. Aqui não há margem para erro.
É diferente contar bem o que se ouviu a outro do que tentar protagonizá-lo, adornar-se com plumas alheias. Mimetismo. O narrador sedentário deve depor a sua ânsia de protagonismo, sobretudo se não tiver sabido protagonizar nada. Protagonismo vazio. É sempre preferível um modesto artífice, um mero cronista.

Carmen Martín Gaite, Cuadernos de todo, col. Contemporánea, Debolsillo, Barcelona, 2003.