quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Textos para fora

Edição e editores - 1

Há uns anos, o significado do termo editor servia quase exclusivamente para referir o dono ou o responsável da casa editora. Este, em boa parte dos casos, coincidia com o editor, na acepção que sempre teve no mundo anglo-saxónico, que não se confunde com o publisher. Daí que, entre nós, durante muito tempo, os dois termos tenham sido usados como sinónimos, embora o papel do editor se tenha confundido, muitas vezes, com o de director editorial.
Quando a figura do editor (na primeira acepção) deixou de estar necessariamente colada a personalidades culturalmente interessadas e interessantes, e na publicação de livros se acentuou a dimensão de negócio, feito por gente de negócios, a palavra editor começou a aparecer com frequência desligada do seu antigo sentido em português.
E, assim, passámos a ter editoras que, no plano organizativo e funcional, contemplam a existência de um ou vários editores.
Que faz o editor? Edita. Isto é garante a preparação de um texto com vista à sua publicação. Essa preparação, que eventualmente se iniciou com a própria escolha do texto, abrange uma multiplicidade de tarefas de direcção e de supervisão. O trabalho de edição pressupõe um trabalho de equipa, em que cada um participa com as suas competências específicas – leitura crítica, tradução, redacção, uniformização de critérios, revisão, anotações, maquetagem, paginação, revisão gráfica, design, capa, aprovação, etc. Cabe, no entanto, ao editor dirigir este trabalho, garantindo pessoalmente o controlo da qualidade de cada um dos contributos, para que possa assumir o seu papel de responsável pela edição.
A qualidade do produto final é o espelho do trabalho de cada membro da equipa, mas é sobretudo a assinatura do editor.
É importante e útil formar equipas coesas, criativas, seguras, em cujo trabalho se possa ter uma grande confiança. Mas isso não dispensa o editor de dominar o suficiente de cada uma das diferentes tarefas, mesmo que elas sejam realizadas externamente, para assegurar o controlo da qualidade de cada uma delas. Pode esperar-se, como Nelson em Trafalgar, que cada um cumpra a sua parte, mas isso não dispensou Nelson da sua função de comandante. Foi Nelson quem ganhou a batalha. E foi Nelson quem, também, morreu nela.
O problema é que, quando folheamos certos livros, eles deixam entrever o caos editorial em que foram concebidos, e percebemos como o amadorismo e a competência inane constituem os despojos de alguma volúpia empresarial.

Este texto foi publicado na revista on line Livros & Leituras, para a qual foi originalmente escrito.