sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Silêncios

Há silêncios recolhidos, densos.
Há silêncios doridos, vivos de mágoa.
Há silêncios de espanto. Há silêncios duros, tensos.
Há silêncios constrangidos. Há silêncios desajeitados. Tolos.
Há silêncios de recusa. Ou de pudor.
Há silêncios ansiosos. Há o silêncio da espera.
O silêncio da premeditação. E o da raiva.
Há o silêncio da ignomínia e da humilhação. Do esquecimento.
Do desprezo.
Há silêncios palpitantes. Há mil palavras em certos silêncios.
Há o silêncio da prece. E há o silêncio do vazio.
Há silêncios impossíveis.
E há o silêncio procurado. O voto de silêncio. A humildade do silêncio.
Há segredos nos silêncios. Há silêncios apavorados
e também os há pavorosos. Mas há silêncios deslumbrados, intensos.
Há o silêncio do silêncio, de onde a música brota. Há ainda o silêncio
de quando a voz não cabe nas palavras.
E há o silêncio que fica quando ficamos sós: humidade que se adentra
e nos devora em silêncio.