terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pequena efeméride

actualização do soneto VII de luiz vaz


Mudam-se os templos, mudam-se as vontades
muda-se o crer, muda-se a mudança
e o pó facundo, imposto à confiança
geral, esporrinha (mal) liberalidades.

Continuamente TêVêmos suaves
dirigentes na rota da esperança;
do aval esticam anáguas de faiança
que tem, o algum bem, das raridades.

Jumento-cobra cobre o cão, e o espanto
desta anti bio lógica heresia
em mim adverte o coro em que não canto.

E afora este mudar de bateria
nenhuma outra mudança dá o arranco
final à encalhada ferraria.


João Pedro Grabato Dias, Sonetos de Amor e Circunstância e Uma Canção Desesperada, Lourenço Marques, 1970.

NOTA: Eugénio Lisboa, um dos membros do júri (de que fizeram parte também Rui Knopfli, Orlando Mendes, Eduardo Parreira e Maria de Lourdes Cortez) que atribuiu a João Pedro Grabato Dias o Prémio Reinaldo Ferreira, 1968/ 1.º prémio do concurso literário da Câmara Municipal de Lourenço Marques, fala, em texto publicado na edição acima referida, de uma «voz singular ulcerada e mitológica, ensimesmada, onírica, ironicamente realista, brutal, descabelada, ardentemente bizarra, reveladora de um mundo fantasmagórico e quase demasiado verdadeiro, traduzido por uma extraordinária «fauna léxica» que a um tempo nos subjuga e desorienta...»