segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Língua corrente

«A fraude cultural tem aumentado mais o distanciamento do público em relação à arte da palavra do que em relação a outras artes, porque, seguramente, não se reclama saber pincelar as cores que alguém pinta, nem saber assobiar as áreas que alguém compõe, mas reclama-se sim, saber falar a língua que alguém escreve. E, apesar disso, e justamente por essa razão, saber-se-ia pincelar e assobiar ainda melhor. Vive-se de tal modo distante da língua que se crê, porque se sabe falar, saber falar. O respeito por ela seria muito maior se houvesse uma pintura corrente e uma música corrente, de modo a que as pessoas pudessem, por assobio ou pincelagem, contar o que comeram hoje.»
Karl Kraus
Nachts
(traduzido da edição francesa, La Nuit Venue, Éditions Gérard Lebovici, 1986)