quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Banho e duche

-- Têm banho?
-- Não. Mas temos duche.
Não é o mesmo. Para efeitos de limpeza, pode ser. Mas, para o asseio, de maneira nenhuma.
O banho conforta. O duche sacode. Pode também refrescar, nesta sacudidela. Mas, não pode fazer o que deveríamos chamar sempre, no sentido antigo e clássico da palavra: «desalterar», apaziguar.
Clássico, no sentido genuíno, quer dizer, no sentido ecuménico. Não se trata de um casticismo. Aos gregos, o vinho apaziguava-os, ao passo que, aos românticos, os altera sempre. É bem verdade que aqueles, Anacreonte incluído, deixando de parte bacanais saturnais e outros excessos, parece que, em boa companhia, o bebiam habitualmente aguado. E eram tão sensíveis, segundo se diz, à sua virtude, que parece que a bebida, tirada de uma ânfora de água, ainda que tivesse contido vinho, bastava para lhes provocar uma exaltação risonha.
Do banho, sai-se com vontade de comer. Do duche, sai-se com vontade de fumar.
Há também leituras com o efeito do banho, e, outras, com o efeito do duche. Gostaria que as minhas páginas pertencessem a esta categoria.
Que palavra formosa: «asseio»! O asseio aproxima da asseidade...
Os meus colegas entenderão perfeitamente o que quero dizer.... Digo eu, a não ser que, dos dois termos, ignorem um deles.

Eugénio D’Ors, Último Glosario, Vol. V – El Guante Impar, Editoral Comares, Col. La Veleta, Granada, 2002.