terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Carnavais de outros tempos

– Estás a rir? – dise Carlos, sorrindo também e estendendo a chávena para a encher outra vez. – Ora ouve. Ao meu lado esquerdo, do lado do coração, como dizes, estava um dominó feminino, fitando-me de uma maneira… como nem te sei dizer… e com uns olhos… mal sabes que bonitos olhos eram aqueles, Jenny!
– Os da máscara? – perguntou Jenny, preparando a chávena.
– Não; os da mascarada, os quais eu percebia através das aberturas oculares da elegante máscara de cetim preto que ela trazia. A cabeça descaía-lhe ligeiramente sobre o ombro em postura de tanta languidez e melancolia, e nesta posição a seda da máscara descobria-lhe um canto de lábios e um princípio de colo tão bem modelados, que eu não pude desviar mais dali o olhar extasiado, e… e…
Então que quer dizer agora esse teu sorriso, Jenny?

– Estou a admirar a rapidez com que te apaixonas e extasias.»

Júlio Dinis, Uma Família Inglesa