sábado, 3 de dezembro de 2011

Nenhum editor

25 de Junho. Encontro na rua um velho condiscípulo do liceu e ficamos a conversar algum tempo. Leitor compulsivo e actualizado, ficou surpreendido quando lhe disse que a minha biblioteca não é desmedida como a dele. De tanto ler não lhe sobrou tempo para escrever. E alguns textos juvenis mostravam que tinha vocação para isso.
É das raras pessoas que se interessa pelo meu diário e quer saber quando publico outro volume. Respondo que nenhum editor está interessado nas minhas insónias e numa literatura que não se vende. As minhas insónias, além disso, não são, obviamente, as de Cioran, de que nasceram livros que parecem caprichos ou monstros de Goya.

João Bigotte Chorão, «Diário - 2010», em Revisiones, Revista de crítica cultural, n.º 6, Servicio de Publicaciones de la Universidad de Navarra, Pamplona, 2010.