segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Diário de leitura

Bolaño é um escritor sul-americano. Esta afirmação factual vai, no entanto, para além da origem geográfica. A escrita de Bolaño é sul-americana do mesmo modo que um clima se diz tropical.

O qualitativo «sul-americano» aplicado à escrita está, antes de mais, associada ao êxito europeu do chamado realismo mágico. Diz respeito a uma literatura habitada pela lenda e outros instrumentos de estabelecimento do mito. De um certo modo de fazer realidade, somado a múltiplas realidades locais: sociais, políticas, folclóricas e oníricas. De uma escrita barroca, neo-barroca, muitas vezes liberta de algumas convenções, com a oralidade e a polifonia a invadirem o discurso e a construção romanescas.

Neste aspecto, Saramago não inventou nada. Nem o que muito antes dissera Molero fora formalmente novo. Era o afloramento nacional, talvez o primeiro, desse modo narrativo.

O universo de Bolaño não é o do realismo mágico. Bolaño não despreza nenhuma convenção do romance. Muito pelo contrário.

O seu universo é o do realismo «múltiplo». É um universo em constante expansão, em todas as direcções. Um universo fascinado pelo avulso e pelo particular, isto é, pela observação da diversidade humana, que é afinal a prova da sua unidade essencial.

Mas, neste universo, adivinha-se um limite. Veremos.

Cherne grelhado numa pequena praia junto ao Bom Sucesso, ao lado da lagoa de Óbidos. Digamos que fez parte do programa de fisioterapia de hoje.