Café de Subúrbio
A senhora velha pinta-se ao espelho.
Traz peruca loura, pestana postiça.
Na fente, curvado, sorve o chá um velho.
Regressam da missa.
A senhora velha devora o rapaz
De calça de ganga cingida na coxa
(Espreita-lhe um pente no bolso de trás).
O velho, guloso, devora uma «trouxa».
A senhora velha sorri, faz boquinha.
O rapaz, alheio, acende um cigarro.
O fumo namora-a, envolve-a, acarinha-a...
O velho abre o lenço e expele um catarro.
António Manuel Couto Viana, Café de Subúrbio, 1992.