segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Tecnologia: de volta à idade da pedra.

Ouço falar sobre as «funcionalidades» que os suportes para leitura de livros electrónicos permitem accionar. Fala-se, por exemplo, de uma maior aproximação entre leitor e autor, com o acesso directo ao twitter deste último, que se supõe dever ser incessantemente alimentado. Estamos a voltar à idade da pedra! A única aproximação do leitor ao autor deveria ser a obra do cavalheiro que escreve. Tudo o resto é espúrio. Tudo o resto é a menorização da própria escrita e a negação da natureza do literário. Em geral, a única aproximação interessante a uma figura autoral é pela mediação da escrita, de outros ou do próprio (crítica, ensaio, biografia, diário, correspondência, memórias, etc.), ou eventualmente pela sua presença, forçada e formal, de modo a que as suas palavras adquiram um sentido que não se enquadre no puro quotidiano. Tudo o resto é espúrio. Tudo o resto é estúpido. E aos autores que com isto se encantam, recordar-lhes-ia que, como diz o meu pai, enquanto se canta, não se assobia.