quarta-feira, 6 de julho de 2011

O igualitarismo do gosto

Que a riqueza não se medirá no futuro pelo dinheiro é algo que se evidencia ao comprovar como, já na actualidade, muita gente com dinheiro possui escassa riqueza ou, se quisermos, possui com escassa qualidade: basta observar como os ricos imitam os pobres diante do écrã ou no estádio, e que estes últimos não são já mais analfabetos que aqueles e que uns e outros partilham a verdade única da propaganda publicitária. Por mais assombroso que seja, a desigualdade das contas bancárias não anula um crescente igualitarismo do gosto, ou melhor do mau gosto, que se observa em tudo, porém, mais do que na rua, na decoração e nas ornamentações da intimidade.

Rafael Argullol em «Carreteras Invisibles», Enciclopedia del crepúsculo, Acantilado, Barcelona, 2005.