terça-feira, 16 de novembro de 2010

Memórias Intactas

Ao almoço, na Tate velha, ainda fulminado pela luz irradiante e intensa dos quadros de Turner, uma salada de cores gregas: alcachofras, tomate seco, queijo feta, azeitonas pretas. Há quase sempre, na pintura de Turner, um conteúdo dramático em que a luz — melhor seria dizer as cores da luz — submete todo o elenco das restantes dramatis personae para triunfar ela só, sobre tudo e todos. A dimensão figurativa é progressivamente perturbada pela girândola do tremendo e do sublime até quase se desvanecer, para se tornar apenas pintura de uma visão ou, porque não dizê-lo, apenas pintura. Ocorre-me a relação inesperada com a rota da pintura de Rothko: também na sua obra a mancha e a cor triunfaram sobre a pura representação, tornando-se representação pura de conteúdos, não já romanticamente sublimes nem tremendos, mas puramente dramáticos, desnudadamente trágicos.