quinta-feira, 15 de julho de 2010

A velocidade e o tempo

Não gosto da velocidade. A velocidade é-me útil e instrumental. Mas não me entusiasma. Pelo contrário, tiro partido da lentidão. Dou tempo ao tempo e ao pensamento para se alongar ao encontro de palavras justas. Acontece outras vezes surgirem palavras que longamente procuram um pensamento que as acolha. A disponibilidade absoluta que a música me pede é dominada pela proximidade do silêncio e por uma não urgência do mundo. O amor, os seus trabalhos, a sua urgência, é na expansão do momento que vive, na minúcia litúrgica da demora. Os rituais de recolhimento ou de partilha, avessos à pressa, requerem fundíssimos vagares — a celebração de um vinho, a pequena eternidade de um puro havano, a respiração secreta dos lugares, a solidão opulenta da leitura, a fraterna confraria da conversa, os labores da mesa, o zelo da amizade, as inquietas iluminações do espírito. Porém, todos são afinal experiências de brevidade. E urgem, instam a que tenha tempo de ter tempo.