quinta-feira, 29 de julho de 2010

Habitar uma casa

Habitar uma casa é percorrê-la ileso na escuridão, trazê-la entranhada no tacto, conhecer-lhe os truques baixos, a mobilidade dos armários, a coligação de fantasmas.
O soalho flui, e segrega uma gramática de pausas. Dúvidas furtivas riscam paredes embebidas de sombras líquidas, que amortecem os corpos e se alimentam de indizíveis delírios.
Trago as mãos cheias de casas e de versos, frases cortadas pelo andamento de quarteirões costurados no dorso de inigualáveis éguas, colinas melancólicas de casario exausto, lançado sobre o rio omnímodo, implacável cintura.